De um cocktail de desafio, imaginação e
crítica surge a arrebatadora “Farsa de Inês Pereira”: a história de uma jovem
leviana que olha para o casamento como nada mais do que puro interesse. No
entanto, acaba por ser enganada, o que resulta numa perfeita comédia de enganos
com um acentuado rasto de vingança.
É Gil Vicente, conhecido como o Mestre
do Teatro português que, levado pela necessidade de mostrar a todos os seus
contemporâneos a verdade da sua originalidade, nos põe nas mãos uma trama baseada
no provérbio: “Antes quero asno que me leve que cavalo que me derrube.”
Inês, personagem principal da obra,
revela-se uma jovem pragmática e pouco consciente que vê no casamento uma via
para a independência e liberdade, tendo por ideal um homem discreto e avisado.
São-lhe apresentados dois pretendentes totalmente distintos: Pêro Marques,
homem leal, rural e ingénuo que Inês põe logo de parte e Brás da Mata que, em
instantes, faz da rapariga sua esposa. É neste momento da obra que é mais
sentida a comédia de enganos, resultante da agilidade com que Gil Vicente dá
asas à literatura: o Escudeiro, que se tinha feito passar por um homem animado,
com posses e reconhecido, demonstra-se violento e mesquinho, acabando por ser
morto por um pastor. Assim se inicia o ciclo de vingança que leva, de forma
astuta, Inês a casar com Pêro Marques, descarregando nele toda a liberdade de
que Brás da Mata a privou, fazendo-o passar por “marido cuco”. Gil Vicente
encerra, deste modo, a trama que, tal como todas as suas obras, foi marcada
pela sua distinta qualidade e criatividade.
É criticando a leviandade das mulheres
burguesas que querem subir na escala social através do casamento que Mestre
Gil, mais uma vez, nos surpreende com o seu talento.
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