sexta-feira, 8 de abril de 2016

Apreciação crítica da “Farsa de Inês Pereira”:

De um cocktail de desafio, imaginação e crítica surge a arrebatadora “Farsa de Inês Pereira”: a história de uma jovem leviana que olha para o casamento como nada mais do que puro interesse. No entanto, acaba por ser enganada, o que resulta numa perfeita comédia de enganos com um acentuado rasto de vingança.
É Gil Vicente, conhecido como o Mestre do Teatro português que, levado pela necessidade de mostrar a todos os seus contemporâneos a verdade da sua originalidade, nos põe nas mãos uma trama baseada no provérbio: “Antes quero asno que me leve que cavalo que me derrube.”
Inês, personagem principal da obra, revela-se uma jovem pragmática e pouco consciente que vê no casamento uma via para a independência e liberdade, tendo por ideal um homem discreto e avisado. São-lhe apresentados dois pretendentes totalmente distintos: Pêro Marques, homem leal, rural e ingénuo que Inês põe logo de parte e Brás da Mata que, em instantes, faz da rapariga sua esposa. É neste momento da obra que é mais sentida a comédia de enganos, resultante da agilidade com que Gil Vicente dá asas à literatura: o Escudeiro, que se tinha feito passar por um homem animado, com posses e reconhecido, demonstra-se violento e mesquinho, acabando por ser morto por um pastor. Assim se inicia o ciclo de vingança que leva, de forma astuta, Inês a casar com Pêro Marques, descarregando nele toda a liberdade de que Brás da Mata a privou, fazendo-o passar por “marido cuco”. Gil Vicente encerra, deste modo, a trama que, tal como todas as suas obras, foi marcada pela sua distinta qualidade e criatividade.

É criticando a leviandade das mulheres burguesas que querem subir na escala social através do casamento que Mestre Gil, mais uma vez, nos surpreende com o seu talento.

Martinha 

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