«Tenho saudades de uma pessoa. É a segunda pessoa do plural. Em
Lisboa, como sabeis, fora do púlpito praticamente ninguém a usa. Se calhar, tem
um sabor antigo – e vós desejais ser modernos. Ou então soa a beatice – e vós
ambicionais ser marotos. Seja por que razão for, a segunda pessoa do plural foi
substituída por uma formulação meio esquisita. Em vez de “vós falais”, dizeis
“vocês falam”. (Eu também digo, mas estou a conter-me para efeitos de comédia.)
Ora, “falam” é a terceira pessoa do plural e, por isso, “vocês falam” constitui
uma mixórdia linguística.
A forma verbal que usamos
para “eles”, aplicamos a “vós”. Na verdade, a “vocês” – que, ao que parece,
resulta da contracção das palavras “vossas mercês”, uma expressão pelo menos
tão antiquada como “vós”. Em Lisboa (e não só) dizemos, por isso, “vocês falam”
e “eles falam”. Aquele “falam” passa a servir para tudo. Em inglês, a mesma
forma verbal também serve para várias pessoas: I speak, you speak, we speak,
they speak. É uma falta de higiene e uma vergonha. Parece uma língua inventada
por crianças.»
Se quereis continuar a ler, clicai em http://visao.sapo.pt/opiniao/ricardo-araujo-pereira/2016-12-15-Ate-que-o-vos-me-doa.
Tende umas boas férias – mas não vos esqueçais de ler Os Maias, para terdes boas notas no segundo período.)
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