"(...) cantiga de amor (canto em voz masculina), a cantiga de amigo (canto em voz feminina) e a cantiga de escárnio e maldizer (cantiga satírica, respetivamente com ou sem equívoco). Paralelamente a estes três géneros principais, os trovadores e jograis cultivaram ainda, se bem que de forma esporádica, alguns outros géneros, como a tenção (disputa dialogada), o pranto (lamento pela morte de alguém), o lai (composição de matéria de Bretanha) ou apastorela (narrativa de um encontro entre o trovador e uma pastora).
Género de registo aristocrático, a cantiga de amor galego-portuguesa segue muito claramente o universo dofin’amor provençal (sobretudo o da fase mais tardia), num modelo que não é apenas formal mas que retoma também uma “arte de amar” que define, em novos moldes culturais e sociais, as relações entre o homem e a mulher, ou, na terminologia usada pelos trovadores à exaustão, entre o poeta servidor e a sua senhor (o chamado “amor cortês”, numa terminologia pouco exata, mas que se tornou tradicional). De forma retoricamente elaborada, a cantiga de amor apresenta-nos assim uma voz masculina essencialmente sentimental, que canta a beleza e as qualidades de uma senhora inatingível e imaterial, e a correlativa coita(sofrimento) do poeta face à sua indiferença ou face à sua própria incapacidade para lhe expressar o seu amor. Se bem que decididamente influenciada pela canso provençal, como se disse, a cantiga de amor galego-portuguesa assume, no entanto, algumas características distintas, desde logo o facto de ser em geral mais curta e de frequentemente (em mais de metade dos casos conservados) incluir um refrão (quando a norma provençal é a cantiga de mestria, ou seja, sem refrão).
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