terça-feira, 27 de outubro de 2015

As cantigas trovadorescas galego-portuguesas


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As cantigas trovadorescas galego-portuguesas são um dos patrimónios mais ricos da Idade Média peninsular. Produzidas durante o período, de cerca de 150 anos, que vai, genericamente, de finais do século XII a meados do século XIV, as cantigas medievais situam-se, historicamente, nas alvores das nacionalidades ibéricas, sendo, em grande parte contemporâneas da chamada Reconquista cristã, que nelas deixa, aliás, numerosas marcas. Tendo em conta a geografia política peninsular da época, que se caracterizava pela existência de entidades políticas diversas, muitas vezes com fronteiras voláteis e frequentemente em luta entre si, a área geográfica e cultural onde se desenvolve a arte trovadoresca galego-portuguesa (ou seja, em língua galego-portuguesa) corresponde, latamente, aos reinos de Leão e Galiza, ao reino de Portugal, e ao reino de Castela (a partir de 1230 unificado com Leão).


Nas origens da arte trovadoresca galego-portuguesa está, indiscutivelmente, a arte dos trovadores provençais, movimento artístico nascido no sul de França em inícios do século XII, e que rapidamente se estende pela Europa cristã. Compondo e cantando já em língua falada (no caso, o occitânico) e não mais em Latim, os trovadores provençais, através da arte da canso, mas também do fin’amor que lhe está associado, definiram os modelos e padrões artísticos, mas também genericamente culturais, que se irão tornar dominantes nas cortes e casas aristocráticas europeias durante os séculos seguintes. Acompanhando, pois, sem dúvida, um movimento europeu mais vasto de adoção dos modelos occitânicos, a arte trovadoresca galego-portuguesa assume, no entanto, características muito próprias (...) que a distinguem de forma assinalável da sua congénere provençal, desde logo pela criação de um género próprio, a cantiga de amigo.

No total, e recolhidas em três grandes cancioneiros (o Cancioneiro da Ajuda, o Cancioneiro da Biblioteca Nacional e o Cancioneiro da Biblioteca Vaticana), chegaram até nós cerca de 1680 cantigas profanas ou de corte, pertencentes a três géneros maiores (cantiga de amor, cantiga de amigo e cantiga de escárnio e maldizer), e da autoria de cerca de 187 trovadores e jograis.
 
Lopes, Graça Videira; Ferreira, Manuel Pedro et al. (2011-), 
Cantigas Medievais Galego Portuguesas [base de dados online]. Lisboa: Instituto de Estudos Medievais, FCSH/NOVA. [Consulta em 27/10/2015] Disponível em: <http://cantigas.fcsh.unl.pt>.

O galego-português



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O período que medeia entre os séculos X e XIV constitui, pois, a época por excelência do Galego-Português. É, no entanto, a partir de finais do século XII que a língua falada se afirma e desenvolve como língua literária por excelência, num processo que se estende até cerca de 1350, e que, muito embora inclua também manifestações em prosa, alcança a sua mais notável expressão na poesia que um conjunto alargado de trovadores e jograis, galegos, Portugueses, mas também castelhanos e leoneses, nos legou.


Convém, pois, ter presente, que quando falamos de poesia medieval galego-portuguesa falamos menos em termos espaciais do que em termos linguísticos, ou seja, trata-se essencialmente de uma poesia feita em Galego-Português por um conjunto de autores ibéricos, num espaço geográfico alargado e que não coincide exatamente com a área mais restrita onde a língua era efetivamente falada.
Lopes, Graça Videira; Ferreira, Manuel Pedro et al. (2011-), 


Cantigas Medievais Galego Portuguesas [base de dados online]. Lisboa: Instituto de Estudos Medievais, FCSH/NOVA. [Consulta em 27/10/2015] Disponível em: <http://cantigas.fcsh.unl.pt>.

Cantigas de escárnio e maldizer

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O terceiro grande género cultivado pelos trovadores e jograis galego-portugueses é o satírico, ou seja, as cantigas de escárnio e maldizer, que representam mais de um quarto do total das cantigas que chegaram até nós. No já referido pequeno tratado sobre a Arte de Trovar que abre o Cancioneiro da Biblioteca Nacional, o seu anónimo autor define-as, genericamente, como cantigas que os trovadores fazem quando querem “dizer mal” de alguém, estabelecendo em seguida uma diferença no que diz respeito ao modo: assim enquanto que nas cantigas de maldizer a crítica seria direta e ostensiva, nas cantigas de escárnio a crítica seria feita de modo mais subtil, “por palavras cobertas que hajam dous entendimentos” (ou seja, num registo de dupla leitura, o "equívoco", ou hequivocatium, nas palavras do mesmo anónimo autor). Ainda que estes dois modos sejam, de facto, detetáveis nas cantigas conservadas, a nível terminológico esta distinção pode considerar-se, no entanto, mais teórica do que prática: com efeito, os trovadores utilizam muitas vezes a designação genérica “cantigas de escárnio e maldizer” para designarem este género, que claramente se distingue dos outros dois, e que poderemos classificar simplesmente como satírico. Trata-se, de qualquer forma, e na esmagadora maioria dos casos, de uma sátira pessoalizada, ou seja, dirigida a uma personagem concreta, cujo nome, de resto, surge geralmente referido logo nos primeiros versos da composição. Acrescente-se que, embora a Arte de Trovar não o refira explicitamente, nesta arte “dizer mal” trovadoresca (de bem "dizer mal") o riso é igualmente um elemento fundamental. Tematicamente, as cantigas de escárnio e maldizer abarcam um vastíssimo leque de motivos, personagens e acontecimentos, em áreas que vão dos comportamentos quotidianos (sexuais, morais) aos comportamentos políticos, devendo muitas delas ser entendidas como armas de combate entre os vários grupos e interesses em presença. Formalmente, as cantigas satíricas tendem a ser de mestria, embora quase um terço das conservadas (31%) incluam um refrão.
Lopes, Graça Videira; Ferreira, Manuel Pedro et al. (2011-), Cantigas Medievais Galego Portuguesas [base de dados online]. Lisboa: Instituto de Estudos Medievais, FCSH/NOVA. [Consulta em 27/10/2015] Disponível em: <http://cantigas.fcsh.unl.pt>.

Cantigas de amor


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"(...)  cantiga de amor (canto em voz masculina), a cantiga de amigo (canto em voz feminina) e a cantiga de escárnio e maldizer (cantiga satírica, respetivamente com ou sem equívoco). Paralelamente a estes três géneros principais, os trovadores e jograis cultivaram ainda, se bem que de forma esporádica, alguns outros géneros, como a tenção (disputa dialogada), o pranto (lamento pela morte de alguém), o lai (composição de matéria de Bretanha) ou apastorela (narrativa de um encontro entre o trovador e uma pastora).


Género de registo aristocrático, a cantiga de amor galego-portuguesa segue muito claramente o universo dofin’amor provençal (sobretudo o da fase mais tardia), num modelo que não é apenas formal mas que retoma também uma “arte de amar” que define, em novos moldes culturais e sociais, as relações entre o homem e a mulher, ou, na terminologia usada pelos trovadores à exaustão, entre o poeta servidor e a sua senhor (o chamado “amor cortês”, numa terminologia pouco exata, mas que se tornou tradicional). De forma retoricamente elaborada, a cantiga de amor apresenta-nos assim uma voz masculina essencialmente sentimental, que canta a beleza e as qualidades de uma senhora inatingível e imaterial, e a correlativa coita(sofrimento) do poeta face à sua indiferença ou face à sua própria incapacidade para lhe expressar o seu amor. Se bem que decididamente influenciada pela canso provençal, como se disse, a cantiga de amor galego-portuguesa assume, no entanto, algumas características distintas, desde logo o facto de ser em geral mais curta e de frequentemente (em mais de metade dos casos conservados) incluir um refrão (quando a norma provençal é a cantiga de mestria, ou seja, sem refrão).

Lopes, Graça Videira; Ferreira, Manuel Pedro et al. (2011-), 
Cantigas Medievais Galego Portuguesas [base de dados online]. Lisboa: Instituto de Estudos Medievais, FCSH/NOVA. [Consulta em 27/10/2015] Disponível em: <http://cantigas.fcsh.unl.pt>.

Cantigas de amigo

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"Num registo (...)  popular ou burguês, a cantiga de amigo é um género autóctone, cujas origens parecem remontar a uma vasta e arcaica tradição da canção em voz feminina, tradição que os trovadores e jograis galego-portugueses terão seguido, muito embora adaptando-a ao universo cortês e palaciano que era o seu. Desta forma, a voz feminina que os trovadores e jograis fazem cantar nestas composições remete para um universo definido quase sempre pelo corpo erotizado da mulher, que não é agora a senhor mas a jovem enamorada, que canta, por vezes num espaço aberto e natural, o momento da iniciação erótica ao amor. Desta forma a velida (bela), a bem-talhada (de corpo bem feito) exterioriza e materializa de formas várias, formas essas enquadradas numa vivência quotidiana e popular, os sentimentos amorosos que a animam: de alegria pela vinda próxima do seu amigo, de tristeza ou de saudade pela sua partida, de ira pelos seus enganos – os sentimentos que o trovador ou o jogral lhe faz cantar, bem entendido. Compostas e geralmente cantadas por um homem (se bem que possa ter havido igualmente vozes femininas a cantá-las), as cantigas de amigo põem em cena um universo feminino alargado, do qual fazem ainda parte, como interlocutoras da donzela, a mãe, as irmãs ou as amigas. Formalmente, as cantigas de amigo recorrem frequentemente a uma técnica arcaica de construção estrófica conhecida como “paralelismo”, a apresentação da mesma ideia em versos alternados, com pequenas variações verbais nos finais desses mesmos versos, e são quase sempre (em 88% das cantigas conservadas) de refrão.


Lopes, Graça Videira; Ferreira, Manuel Pedro et al. (2011-), Cantigas Medievais Galego Portuguesas [base de dados online]. Lisboa: Instituto de Estudos Medievais, FCSH/NOVA. [Consulta em 27/10/2015] Disponível em: <http://cantigas.fcsh.unl.pt>.

domingo, 18 de outubro de 2015

Resolução da síntese


 

    Luísa Costa Gomes apresenta a utilização das fardas como um fenómeno em constante mudança.
    Se, em tempos, a sociedade lutou pela liberdade do traje e abandono dos uniformes, considerados rebaixantes e atentatórios da individualidade da pessoa, agora as fardas surgem associadas a marcas, funções e locais de trabalho.
    Segundo a autora, atualmente a farda é conotada com eficácia, transformando a pessoa num ser superior.

 (64 palavras)

quarta-feira, 14 de outubro de 2015

Viagem no tempo

Um endereço muito recomendável a que podem aceder clicando aqui.


Nobre, jogral com cítola, rapariga



Para folhear (sim, folhear) o Cancioneiro da Ajuda cliquem aqui.


Para folhear o Cancioneiro da Biblioteca Nacional cliquem aqui.


Para folhear o Cancioneiro da Biblioteca Vaticana, cliquem aqui.

terça-feira, 13 de outubro de 2015

Síntese


Síntese: redução de um texto ao essencial por seleção crítica das ideias-chave (mobilização de informação seletiva, conetores); manutenção do tema e da informação significativa, encadeamento lógico dos tópicos tratados, correção linguística.


  • Redução do texto em +/- 1/4 do original, mas mantendo a neutralidade, a fidelidade e a coerência do texto original
  • Mantém o assunto e as ideias principais do texto original
  • As palavras ou expressões chave mantêm-se na maioria dos casos
  • A informação do texto original é apresentada de acordo com o seu grau de importância
  • Os tempos verbais e as pessoas gramaticais podem ser alterados relativamente ao texto original
  • Há substituição de palavras ou expressões por sinónimos mais curtos
  • As orações subordinadas relativas podem ser substituídas por adjetivos, nomes, particípios ou gerúndios
  • O texto é apresentado na terceira pessoa, com possíveis referências ao autor, destacando as suas opiniões ou intenções
     

  O prazer das fardas

Sei que é quase impossível imaginá-lo, mas houve de facto uma altura na História do Mundo em que o uniforme foi um fenómeno socialmente mal visto. Aí há uns trinta anos lutou-se pela liberdade do traje e tudo foi largando as fardas, batas, hábitos e costumes que se consideravam humilhantes e ofensivos à consciência da unicidade do utilizador. A começar pelo que, já em declínio, se chamava pessoal doméstico, as escolas, restaurantes, autocarros e o exército propriamente dito borbulhava então de uma gente garrida e à sua vontade que tratava imaginativa o tema do uniforme, avivando com flores em locais desconcertantes, lenços à pirata e todo o género de toques pessoais uma vida em sociedade até aí pequenita e sempre igual.
   Mas a liberdade tem muitos perigos e muitas ameaças  e o mundo voltou, diríamos que por instinto, à uniformização protectora do uniforme. Do McDonald’s aos Correios de Portugal, passando por estudantes e donas de boutiques, hoje tudo veste farda, naquela noção mágica de que farda é competência e assumindo sempre que uma pessoa com farda é mais do que uma pessoa.

 

Luísa Costa Gomes               (182 palavras)

1.º teste de avaliação

Educação Literária
Ler e interpretar textos de diferentes géneros e graus de complexidade

Utilizar procedimentos adequados ao registo e ao tratamento de informação

Ler para apreciar criticamente textos variados
Poesia trovadoresca (cantigas de amigo)



Leitura

Ler e interpretar textos de diferentes géneros e graus de complexidade

Utilizar procedimentos adequados ao registo e ao tratamento de informação

Ler para apreciar criticamente textos variados
Elementos paratextuais


Escrita

Planificar a escrita de textos
Escrever textos de diferentes géneros e finalidades

Redigir textos com coerência e correção linguística
Rever os textos escritos
Síntese













Estudar para o teste

Caderno diário, onde está registado TUDO o que foi escrito no quadro.


Manual: páginas  de 28 a 53


Caderno de atividades: páginas de 3 a 5


Caderno de apoio ao estudo: página 3; páginas de 18 a 20