terça-feira, 27 de outubro de 2015

Cantigas de escárnio e maldizer

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O terceiro grande género cultivado pelos trovadores e jograis galego-portugueses é o satírico, ou seja, as cantigas de escárnio e maldizer, que representam mais de um quarto do total das cantigas que chegaram até nós. No já referido pequeno tratado sobre a Arte de Trovar que abre o Cancioneiro da Biblioteca Nacional, o seu anónimo autor define-as, genericamente, como cantigas que os trovadores fazem quando querem “dizer mal” de alguém, estabelecendo em seguida uma diferença no que diz respeito ao modo: assim enquanto que nas cantigas de maldizer a crítica seria direta e ostensiva, nas cantigas de escárnio a crítica seria feita de modo mais subtil, “por palavras cobertas que hajam dous entendimentos” (ou seja, num registo de dupla leitura, o "equívoco", ou hequivocatium, nas palavras do mesmo anónimo autor). Ainda que estes dois modos sejam, de facto, detetáveis nas cantigas conservadas, a nível terminológico esta distinção pode considerar-se, no entanto, mais teórica do que prática: com efeito, os trovadores utilizam muitas vezes a designação genérica “cantigas de escárnio e maldizer” para designarem este género, que claramente se distingue dos outros dois, e que poderemos classificar simplesmente como satírico. Trata-se, de qualquer forma, e na esmagadora maioria dos casos, de uma sátira pessoalizada, ou seja, dirigida a uma personagem concreta, cujo nome, de resto, surge geralmente referido logo nos primeiros versos da composição. Acrescente-se que, embora a Arte de Trovar não o refira explicitamente, nesta arte “dizer mal” trovadoresca (de bem "dizer mal") o riso é igualmente um elemento fundamental. Tematicamente, as cantigas de escárnio e maldizer abarcam um vastíssimo leque de motivos, personagens e acontecimentos, em áreas que vão dos comportamentos quotidianos (sexuais, morais) aos comportamentos políticos, devendo muitas delas ser entendidas como armas de combate entre os vários grupos e interesses em presença. Formalmente, as cantigas satíricas tendem a ser de mestria, embora quase um terço das conservadas (31%) incluam um refrão.
Lopes, Graça Videira; Ferreira, Manuel Pedro et al. (2011-), Cantigas Medievais Galego Portuguesas [base de dados online]. Lisboa: Instituto de Estudos Medievais, FCSH/NOVA. [Consulta em 27/10/2015] Disponível em: <http://cantigas.fcsh.unl.pt>.

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