I
1. Carlos ia a Sintra porque acreditava que poderia encontrar-se lá
com a bela mulher («certa figura que tinha um passo de deusa» – ll. 9-10) por
quem se sentia atraído («supunha que ela estava em Sintra, corria a Sintra» –
l. 11), isto é, Maria Eduarda. Embora não tivesse certeza
alguma sobre tal encontro («Não sabia se a veria» – l. 12), Carlos manifestava
expectativas elevadas de que tal acontecesse, fantasiando cenas de proximidade
com a figura feminina («era possível que daí a pouco, na velha Lawrence, ele a
cruzasse de repente no corredor, roçasse talvez o seu vestido, ouvisse talvez a
sua voz» – ll. 14-15), nomeadamente, que jantariam na mesma sala, que seriam
apresentados um ao outro e que as suas mãos se tocariam («o bom Dâmaso
apresentaria o seu amigo Maia» – l. 19; «ela estender-lhe-ia a mão»
– l. 21).
- Os dois espaços contrastam entre si, nomeadamente, pelos seguintes aspetos:
− a tristeza do ambiente da charneca (o «chão escuro e triste» –
ll. 2-3) opõe-se ao aspeto frondoso, verde e luminoso do Ramalhão (por exemplo:
as «grandes sombras» das árvores, «Os muros [...] cobertos de heras e de
musgos», a «folhagem» atravessada por «longas flechas de sol», as «verduras novas»,
o «bocado de estrada, todo salpicado de manchas do sol», os «espessos
arvoredos» – ll. 26-32);
− o silêncio da charneca («Não havia um rumor» – l. 4) contrasta
com os sons tranquilos da «embaladora sussurração de ramagens» (l. 27), do
«vago murmúrio de águas correntes» (l. 28) e do chilreio dos pássaros da
paisagem de Sintra;
− o espaço «agreste» (l. 5) e seco da charneca opõe-se ao «ar
subtil e aveludado» (l. 29) que se respirava nos arvoredos de Sintra e à
«frescura distante das nascentes vivas» (ll. 32-33);
− a desolação dominante na charneca, desabitada e inóspita,
contrasta com a «religiosa solenidade» (l. 32) dos arvoredos, a grandeza do
espaço e os sinais de habitação aristocrática – «quintas de verão» (l. 33) dos
fidalgos.
3. A
adjetivação simples (em anteposição e posposição) e dupla (em anteposição)
produz, entre outros, os seguintes valores expressivos:
− acentua certas caraterísticas da paisagem, como o aspeto frondoso
(«grandes sombras» – ll. 26-27) e o ambiente tranquilo e aprazível («lenta e
embaladora sussurração» – l. 27; «difuso e vago murmúrio de águas correntes» –
l. 28);
− permite a visualização do espaço, ao descrevê-lo com pormenor;
− sugere a sensação de bem-estar que emana da atmosfera acolhedora
(«Com a paz das grandes sombras, envolvia‑os [...] uma lenta e embaladora
sussurração de ramagens» – ll. 26-27).
4. Enquanto atravessava a charneca, Cruges, ainda «pesado» (l. 6) do almoço, mostrava-se desinteressado da paisagem («olhava, vaga e melancolicamente, as ancas lustrosas dos cavalos» – ll. 6-7). Esta manifestação de tédio foi sublinhada pelo «suspiro de alívio» (l. 22) da personagem aquando da chegada a Sintra («Ora até que finalmente!» – l. 22). No entanto, à medida que o break avançava «sob as árvores do Ramalhão» (l. 26), a paisagem luxuriante e harmoniosa causava-lhe um tal sentimento de plenitude («respirava largamente, voluptuosamente» – l. 34) que teve «a ideia repentina de ficar ali um mês naquele paraíso» – ll. 35-36). Em suma, é evidente no texto uma transformação no comportamento da personagem, com a passagem do tédio ao entusiasmo.
II
1. A
interrogação das linhas 4 e 5 apresenta a ideia
de que ninguém quererá optar por um resumo se puder apreciar a obra.
2. No
filme, a fidelidade com que o realizador segue o texto queirosiano é observada,
por exemplo, nas palavras iniciais do filme e na ordenação
das sequências narrativas.
3. Na
expressão «Tudo é cor neste filme» (linha 15), a palavra «cor» está associada à
ideia de exuberância.
4.
Relativamente ao conteúdo do terceiro parágrafo, o quarto parágrafo introduz um novo tópico de análise.
5. A
utilização de dois pontos na linha 2 e na linha 8 serve para introduzir,
respetivamente, uma explicação e uma
citação.
6. No
contexto em que ocorre, a expressão «grosso volume do romance de Eça de
Queirós» (linha 4) constitui um exemplo de
perífrase.
7. Ao
recorrer à expressão «sem dúvida» (linha 34), veicula-se uma ideia de certeza.
- Trata-se de um pronome pessoal
reflexo.
- Trata-se de uma oração subordinada adjetiva relativa restritiva.
- A coesão desempenhada por «pelo que» (linha 2) é interfrásica.
- A palavra que constitui uma catáfora da expressão «os trajes (num
figurino rigoroso), os cenários, as próprias vozes dos atores» (linha 13) é tudo.
- O vocábulo «que»
é, neste contexto, uma conjunção subordinativa (numa
oração adjetiva relativa restritiva).
II
Dada a natureza deste item, não é apresentado cenário de resposta.
N.B. Sintra é uma vila tão vila, tão vila que tem recusado a elevação a cidade...
Eis o aspeto de uma charneca, como o pintor realista Silva Porto as pintava em 1879:
Sem comentários:
Enviar um comentário