quinta-feira, 1 de junho de 2017

Cenário de correção 11.ºE


I
1. Carlos ia a Sintra porque acreditava que poderia encontrar-se lá com a bela mulher («certa figura que tinha um passo de deusa» – ll. 9-10) por quem se sentia atraído («supunha que ela estava em Sintra, corria a Sintra» – l. 11), isto é, Maria Eduarda.  Embora não tivesse certeza alguma sobre tal encontro («Não sabia se a veria» – l. 12), Carlos manifestava expectativas elevadas de que tal acontecesse, fantasiando cenas de proximidade com a figura feminina («era possível que daí a pouco, na velha Lawrence, ele a cruzasse de repente no corredor, roçasse talvez o seu vestido, ouvisse talvez a sua voz» – ll. 14-15), nomeadamente, que jantariam na mesma sala, que seriam apresentados um ao outro e que as suas mãos se tocariam («o bom Dâmaso apresentaria o seu amigo Maia» – l. 19; «ela estender-lhe-ia a mão» – l. 21).
220px-Restaurante_em_Sintra.jpg (220×165)
  1. Os dois espaços contrastam entre si, nomeadamente, pelos seguintes aspetos:


− a tristeza do ambiente da charneca (o «chão escuro e triste» – ll. 2-3) opõe-se ao aspeto frondoso, verde e luminoso do Ramalhão (por exemplo: as «grandes sombras» das árvores, «Os muros [...] cobertos de heras e de musgos», a «folhagem» atravessada por «longas flechas de sol», as «verduras novas», o «bocado de estrada, todo salpicado de manchas do sol», os «espessos arvoredos» – ll. 26-32);


− o silêncio da charneca («Não havia um rumor» – l. 4) contrasta com os sons tranquilos da «embaladora sussurração de ramagens» (l. 27), do «vago murmúrio de águas correntes» (l. 28) e do chilreio dos pássaros da paisagem de Sintra;


− o espaço «agreste» (l. 5) e seco da charneca opõe-se ao «ar subtil e aveludado» (l. 29) que se respirava nos arvoredos de Sintra e à «frescura distante das nascentes vivas» (ll. 32-33);


− a desolação dominante na charneca, desabitada e inóspita, contrasta com a «religiosa solenidade» (l. 32) dos arvoredos, a grandeza do espaço e os sinais de habitação aristocrática – «quintas de verão» (l. 33) dos fidalgos.



3. A adjetivação simples (em anteposição e posposição) e dupla (em anteposição) produz, entre outros, os seguintes valores expressivos:

− acentua certas caraterísticas da paisagem, como o aspeto frondoso («grandes sombras» – ll. 26-27) e o ambiente tranquilo e aprazível («lenta e embaladora sussurração» – l. 27; «difuso e vago murmúrio de águas correntes» – l. 28);


− permite a visualização do espaço, ao descrevê-lo com pormenor;

− sugere a sensação de bem-estar que emana da atmosfera acolhedora («Com a paz das grandes sombras, envolviaos [...] uma lenta e embaladora sussurração de ramagens» – ll. 26-27).

4. Enquanto atravessava a charneca, Cruges, ainda «pesado» (l. 6) do almoço, mostrava-se desinteressado da paisagem («olhava, vaga e melancolicamente, as ancas lustrosas dos cavalos» – ll. 6-7). Esta manifestação de tédio foi sublinhada pelo «suspiro de alívio» (l. 22) da personagem aquando da chegada a Sintra («Ora até que finalmente!» – l. 22). No entanto, à medida que o break avançava «sob as árvores do Ramalhão» (l. 26), a paisagem luxuriante e harmoniosa causava-lhe um tal sentimento de plenitude («respirava largamente, voluptuosamente» – l. 34) que teve «a ideia repentina de ficar ali um mês naquele paraíso» – ll. 35-36). Em suma, é evidente no texto uma transformação no comportamento da personagem, com a passagem do tédio ao entusiasmo.

II




1. A interrogação das linhas 4 e 5 apresenta a ideia de que ninguém quererá optar por um resumo se puder apreciar a obra.
2. No filme, a fidelidade com que o realizador segue o texto queirosiano é observada, por exemplo,  nas palavras iniciais do filme e na ordenação das sequências narrativas.
3. Na expressão «Tudo é cor neste filme» (linha 15), a palavra «cor» está associada à ideia de exuberância.
4. Relativamente ao conteúdo do terceiro parágrafo, o quarto parágrafo introduz um novo tópico de análise.
5. A utilização de dois pontos na linha 2 e na linha 8 serve para introduzir, respetivamente, uma explicação e uma citação.
6. No contexto em que ocorre, a expressão «grosso volume do romance de Eça de Queirós» (linha 4) constitui um exemplo de perífrase.
7. Ao recorrer à expressão «sem dúvida» (linha 34), veicula-se uma ideia de certeza.


- Trata-se de um pronome pessoal reflexo.
- Trata-se de uma oração subordinada adjetiva relativa restritiva.
- A coesão desempenhada por «pelo que» (linha 2) é interfrásica.
- A palavra que constitui uma catáfora da expressão «os trajes (num figurino rigoroso), os cenários, as próprias vozes dos atores» (linha 13) é tudo.
- O vocábulo «que» é, neste contexto, uma conjunção subordinativa (numa oração adjetiva relativa restritiva).
II




Dada a natureza deste item, não é apresentado cenário de resposta.


N.B. Sintra é uma vila tão vila, tão vila que tem recusado a elevação a cidade...

Eis o aspeto de uma charneca, como o pintor realista Silva Porto as pintava em 1879:

Silva-Porto_charneca-de-Belas_AC.jpg (260×144)






 










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