domingo, 1 de outubro de 2017

E não é que a professora de Português tinha razão?!


Há muita coisa a influenciar quem classifica os exames. Até a letra dos alunos
A especialista em avaliação, Leonor Santos, considera que os exames não contribuem para as aprendizagens e também que não garantem a equidade. Por isso é contra este tipo de provas tal como elas são feitas em Portugal.
Quanto ao efeito de assimilação o que este põe em evidência é quando se olha para uma prova, mesmo que esta seja anónima como é o caso dos exames, se infere um conjunto de coisas sobre a pessoa que a fez. Por exemplo, se é uma prova toda rasurada, em que se escreveu tudo encavalitado, involuntariamente, e inconscientemente, pensa-se que esse aluno tem as ideias muito confusas. Se, pelo contrário, for uma prova muito direitinha, sem rasuras, com uma letra bem-feita, infere-se que deve ser um aluno com bom desempenho. E estas informações vão, uma vez mais, ter efeito sobre a maneira como se aplica os critérios de correcção.

quinta-feira, 15 de junho de 2017

O segredo para os exames


O segredo para os exames? Comer, dormir e… estudar
Em época de exames nacionais a vida de um estudante muda. Provavelmente deixar-se-á tomar pela ansiedade e pode comer demais ou dormir de menos. O PÚBLICO foi ouvir alguns especialistas e deixa as suas recomendações.
11 de Junho de 2017
Fernando Veludo/NFACTOS
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FERNANDO VELUDO/NFACTOS
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Daqui a uma semana (segunda-feira, 19), 161.306 alunos do 11.º e 12.º anos vão iniciar a época de exames. As provas servem para terminar o ensino secundário, mas também para ingressar no superior. Por estas duas razões, além de outras — como as expectativas da família ou mesmo da escola para que obtenham bons resultados —, a pressão é imensa.
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Esta é uma altura em que o apetite pode aumentar ou diminuir, em que o sono se desregula e em que ansiedade é muita, sobretudo para aqueles que sabem, mas têm consciência de que deveriam saber mais, diz João Lopes, professor da Escola de Psicologia da Universidade do Minho.
O PÚBLICO falou com especialistas de várias áreas para responder às seguintes perguntas: o que comer; quanto tempo dormir ou, em caso de não dormir, o que fazer; e quais as estratégias para estudar?
Comer
Em tempo de estudo há quem se levante de cinco em cinco minutos para comer bolachas ou chocolates, ou para fazer um lanche mais elaborado. A fome serve de desculpa para várias interrupções ao dia, mas também para combater a ansiedade que se sente em véspera de exames.
A sugestão da nutricionista Cláudia Viegas, co-autora do livro Prazer sem Pecado, da editora Esfera dos Livros, é para que se coma várias vezes ao dia. Assim, em vez de bolachas porque não sementes? Nozes, avelãs e outras que são ricas em ómega 6, “importante para o nosso cérebro”, sugere.
Para a professora da Escola Superior de Hotelaria e Turismo do Estoril é “fundamental para esta etapa” fazer uma alimentação equilibrada, que contribua para a melhoria do sono e a manutenção de uma actividade física, assim como para uma “melhor oxigenação do cérebro”.
Além das sementes, o PÚBLICO quis saber quais são os nutrientes que o cérebro mais precisa. O peixe — salmão, atum, bacalhau — por causa do ómega 3. Os vegetais e as frutas que são ricos em micronutrientes e antioxidantes. A professora lembra ainda que a água é muito importante para “o correcto funcionamento das células”.
A nutricionista chama também a atenção para o consumo de “glícidos de boa qualidade” como os encontrados nas leguminosas — “investir nas leguminosas”, sublinha —, nas massas e arroz nas suas versões integrais. “Estes alimentos garantem também o fornecimento de alguns micronutrientes importantes como o ferro e o zinco e garantem o aporte em proteínas, que são importantes para a formação dos neurotransmissores.”
E quanto à carne? “Não gosto de dar muita relevância às proteínas, porque é algo que comemos em excesso. Aqui, o que é importante é o tipo de proteínas, peixe é melhor do que carne, não pelas proteínas em si, mas pelos outros nutrientes, nomeadamente o tipo de gordura”, responde.
O que devem os estudantes evitar? As gorduras trans e saturadas — “são péssimas em termos de processamento cerebral”, as bebidas açucaradas porque dão picos de glicémia e os alimentos processados. Portanto, evitar as bolachas. Em vez disso, Cláudia Viegas sugere “pipocas”, não as de milho com sal ou açúcar, mas as frutas da época: pegar numa tigela e encher de cerejas, morangos, amoras, mirtilos ou uvas e ir petiscando.
Quanto aos snacks, a sugestão passa “moderadamente” pelo chocolate, mas preto com elevado teor de cacau. Mais: “Fazer hummus para comer com palitos de cenoura, aipo ou até com pão ou tostas (de preferência integrais, centeio ou outro)”.
Cláudia Viegas não põe de parte o consumo de cafeína, com “moderação”. “É bom, porque pode aumentar a concentração, mas em excesso leva ao cansaço.”
Dormir
A altura dos exames é propícia para ficar com o sono desregulado ou porque os alunos decidem fazer directas, não dormir durante a noite, para recuperar o tempo de estudo perdido; ou porque quando se deitam não conseguem adormecer. Também há quem consiga adormecer, mas tenha o sono muito agitado. Ou quem decida acordar a meio da noite para continuar a estudar, enumera Teresa Paiva, médica especialista do sono.
Por isso, as suas recomendações são quatro: não fazer directas; não deitar tarde; dormir o que é preciso; e fazer pausas para que o jovem se alimente “razoavelmente” e “apanhe sol”.
“Estudar pela noite dentro é errado, porque o ser humano não foi feito para trabalhar de noite e o corpo fica sem regras”, começa por explicar a especialista. As hormonas que são produzidas durante a noite, precisamente porque o corpo está a descansar, vão ser “produzidas de forma errática”, logo, as directas “só têm consequências negativas”.
A médica recomenda que se durma oito a nove horas por noite e, em tempo de estudo, os jovens podem acordar às 8h e deitarem-se às 22h/23h, sugere. “Quanto mais tem de trabalhar, mais tem de descansar e o que eles fazem é exactamente o contrário, mas o sono é essencial para reequilibrar a memória, de maneira a conseguir consolidar as aprendizagens.” Por isso, a sua terceira recomendação é dormir o que precisa. “Se acordar bem, sem despertador, é porque dormiu o que precisou”. Não se pode andar cansado, diz a médica e dá um exemplo concreto, um “exemplo bom”, sublinha: “Se Cristiano Ronaldo estivesse sempre cansado, não fazia o que faz. Se preciso de responder com um alto desempenho, tenho de dormir. É uma regra.”
Teresa Paiva está preocupada com o excesso de trabalho que é pedido a crianças e adolescentes, que, diz, trabalham mais horas — entre a escola e as actividades extracurriculares — do que os adultos. “Não se pode esgotar as crianças e levá-las à exaustão”, elas andam durante todo o ano lectivo “ultracansadas” porque têm imensos trabalhos e não conseguem começar a preparar-se desde cedo para os exames.
E quando eles vão para a cama e não conseguem adormecer ou acordam durante a noite a pensar no exame? “Não sou a favor da medicação. Não se pode habituar uma criança a tomar remédios para resolver provas, até porque os sedativos diminuem o tempo de resposta”, começa por dizer a especialista, sublinhando: “Não queremos crianças viciadas em remédios”. Em vez disso, recomenda actividade física, de preferência relaxante, como ioga ou tai chi, ou fazer exercícios respiratórios. E divertir-se com os amigos, conclui.
Estudar
Não é agora que se começa a estudar, mas o estudo deve ser contínuo e feito ao longo de todo o ano, ou melhor, ao longo dos dois ou dos três anos, dependendo da disciplina para a qual se vai responder em exame, diz João Lopes, investigador da Escola de Psicologia da Universidade do Minho. “A melhor forma de reduzir a ansiedade é estudar bastante”, começa por dizer ao PÚBLICO.
A pedopsiquiatra Maria de Lurdes Candeias dá o exemplo dos atletas de alto rendimento: não se preparam para uma prova à última hora, mas têm regras, mentalizam-se, treinam, alimentam-se bem e repousam, enumera. “Se uma pessoa quiser ter o controlo da situação, o que tem de fazer é estudar o mais possível”, reforça João Lopes, que não recomenda “noitadas” porque o “esforço que isso representa não tem a compensação esperada”.
Por estes dias, o ideal é que se estude, se reveja a matéria, se façam exercícios, se responda a provas de exames de anos anteriores e se tirem dúvidas, mas com pausas. Teresa Paiva lembra que o cérebro “precisa de distracções” e um dos erros que se faz é estar muitas horas consecutivas a trabalhar.
Quer João Lopes quer Teresa Paiva recomendam que se faça um intervalo depois de uma a duas horas de estudo. Este deve ser um “momento de distração para sair, conversar, brincar”, diz a especialista do sono. Mas sem esquecer que o objectivo da pausa é parar para depois voltar à tarefa, alerta o investigador do Minho. “Não é para ficar o resto da tarde à frente da televisão.”
Na véspera do dia do exame, Maria de Lurdes Candeias recomenda que se descanse. No dia da prova é importante fazer uma refeição que dê energia e depois é “responder primeiro ao que sabe e guardar para o fim as perguntas sobre as quais tem dúvidas”, isto dá tranquilidade.
E quem não sabe responder? Em consulta, a pedopsiquiatra recomenda que se pare um ano, que se repitam as disciplinas com notas mais baixas ou aquelas que são fundamentais para prosseguir os estudos e fazer outras coisas, como um curso de informática ou tirar a carta de condução. “Vejo mais jovens em sofrimento por causa de um valor [para entrar no curso que querem]; do que entre os que têm perspectivas irrealistas”, diz a médica.
Para Teresa Paiva, não é admissível que se chumbe, mas “ninguém morre se tiver uma nota um bocadinho pior”. “Pôr na cabeça das crianças que se não tiverem aquela nota vão para o desemprego é ansiogénico”, induz ansiedade. “Portanto, as pessoas têm de compreender que a vida é complicada, graças a Deus! E que é possível ser feliz a fazer outras coisas”, conclui.

segunda-feira, 5 de junho de 2017

Cenário de correção 11.ºD


1. Segundo os neurologistas, as mudanças do cérebro na puberdade são, em grande medida, as responsáveis pelas atitudes dos adolescentes.


2. Uma consequência essencial do filme Rebelde sem causa consistiu em a ciência ter passado a interessar-se pelos fatores biológicos que condicionam esta fase da vida.



3.Os conectores «pois» (linha 11) e «No entanto» (linha 12) introduzem, respetivamente, ideias de explicação e oposição.


4.O pronome pessoal presente em «os jovens na puberdade vivem num desfasamento horário que os faz despertar um par de horas antes do que seria normal» (linhas 15-16) é um exemplo de coesão referencial.


5.A referência a um «estudo do Instituto de Neurociência Cognitiva do University College of London» (linha 20) tem a função, no contexto em que ocorre, de explicar determinado comportamento típico de adolescentes.


6.Com a utilização do conector «Isto é» (linha 26), o autor do texto inicia uma explicação.

7.Dormir pouco, na adolescência, pode ter como consequência o aparecimento de alterações fisiológicas.



8. A oração iniciada por «que» na frase «Os neurologistas descobriram que o cérebro começa a reorganizar-se na puberdade» (linha 1) desempenha a função de complemento direto.



9. Trata-se de uma oração subordinada adjetiva relativa restritiva.



10. O antecedente do pronome pessoal presente na expressão «ignorar os estímulos que o possam distrair» (linha 24) é “jovem”.

III

quinta-feira, 1 de junho de 2017

Cenário de correção 11.ºB (Work in progress)


II
1.1. No caso de Eça de Queirós, a expressão «triunfo de um ponto de vista» (linha 1) corresponde a uma síntese que exclui a interpretação idealista daquilo que o rodeia.

1.2. Desde as primeiras leituras realizadas na adolescência, a admiração da autora pela obra de Eça mantém-se inalterada.

1.3. Segundo a autora, depois de Eça, a literatura passou a integrar o real de forma mais complexa.

1.4. Para Lídia Jorge, a valorização da prosa de Eça nos nossos dias, ainda que legítima, resulta em grande parte da dificuldade dos leitores em entenderem a literatura subsequente.

1.5. Na expressão «estimá-lo e a lê-lo» (linha 5) verifica-se um fenómeno de coesão interfrásica.

1.6. Na expressão «deflagração extraordinária» (linha 15), a autora recorre a uma metáfora.

1.7. O último parágrafo do texto é predominantemente argumentativo.

- Trata-se de uma conjunção subordinativa condicional

- Trata-se de uma conjunção subordinativa completiva

- A palavra «queirosiano» (linha 13) desempenha a função sintática de predicativo do sujeito

- Oração subordinada adjetiva relativa explicativa


III


Dada a natureza deste item, não é apresentado cenário de resposta.

Cenário de correção 11.ºE


I
1. Carlos ia a Sintra porque acreditava que poderia encontrar-se lá com a bela mulher («certa figura que tinha um passo de deusa» – ll. 9-10) por quem se sentia atraído («supunha que ela estava em Sintra, corria a Sintra» – l. 11), isto é, Maria Eduarda.  Embora não tivesse certeza alguma sobre tal encontro («Não sabia se a veria» – l. 12), Carlos manifestava expectativas elevadas de que tal acontecesse, fantasiando cenas de proximidade com a figura feminina («era possível que daí a pouco, na velha Lawrence, ele a cruzasse de repente no corredor, roçasse talvez o seu vestido, ouvisse talvez a sua voz» – ll. 14-15), nomeadamente, que jantariam na mesma sala, que seriam apresentados um ao outro e que as suas mãos se tocariam («o bom Dâmaso apresentaria o seu amigo Maia» – l. 19; «ela estender-lhe-ia a mão» – l. 21).
220px-Restaurante_em_Sintra.jpg (220×165)
  1. Os dois espaços contrastam entre si, nomeadamente, pelos seguintes aspetos:


− a tristeza do ambiente da charneca (o «chão escuro e triste» – ll. 2-3) opõe-se ao aspeto frondoso, verde e luminoso do Ramalhão (por exemplo: as «grandes sombras» das árvores, «Os muros [...] cobertos de heras e de musgos», a «folhagem» atravessada por «longas flechas de sol», as «verduras novas», o «bocado de estrada, todo salpicado de manchas do sol», os «espessos arvoredos» – ll. 26-32);


− o silêncio da charneca («Não havia um rumor» – l. 4) contrasta com os sons tranquilos da «embaladora sussurração de ramagens» (l. 27), do «vago murmúrio de águas correntes» (l. 28) e do chilreio dos pássaros da paisagem de Sintra;


− o espaço «agreste» (l. 5) e seco da charneca opõe-se ao «ar subtil e aveludado» (l. 29) que se respirava nos arvoredos de Sintra e à «frescura distante das nascentes vivas» (ll. 32-33);


− a desolação dominante na charneca, desabitada e inóspita, contrasta com a «religiosa solenidade» (l. 32) dos arvoredos, a grandeza do espaço e os sinais de habitação aristocrática – «quintas de verão» (l. 33) dos fidalgos.



3. A adjetivação simples (em anteposição e posposição) e dupla (em anteposição) produz, entre outros, os seguintes valores expressivos:

− acentua certas caraterísticas da paisagem, como o aspeto frondoso («grandes sombras» – ll. 26-27) e o ambiente tranquilo e aprazível («lenta e embaladora sussurração» – l. 27; «difuso e vago murmúrio de águas correntes» – l. 28);


− permite a visualização do espaço, ao descrevê-lo com pormenor;

− sugere a sensação de bem-estar que emana da atmosfera acolhedora («Com a paz das grandes sombras, envolviaos [...] uma lenta e embaladora sussurração de ramagens» – ll. 26-27).

4. Enquanto atravessava a charneca, Cruges, ainda «pesado» (l. 6) do almoço, mostrava-se desinteressado da paisagem («olhava, vaga e melancolicamente, as ancas lustrosas dos cavalos» – ll. 6-7). Esta manifestação de tédio foi sublinhada pelo «suspiro de alívio» (l. 22) da personagem aquando da chegada a Sintra («Ora até que finalmente!» – l. 22). No entanto, à medida que o break avançava «sob as árvores do Ramalhão» (l. 26), a paisagem luxuriante e harmoniosa causava-lhe um tal sentimento de plenitude («respirava largamente, voluptuosamente» – l. 34) que teve «a ideia repentina de ficar ali um mês naquele paraíso» – ll. 35-36). Em suma, é evidente no texto uma transformação no comportamento da personagem, com a passagem do tédio ao entusiasmo.

II




1. A interrogação das linhas 4 e 5 apresenta a ideia de que ninguém quererá optar por um resumo se puder apreciar a obra.
2. No filme, a fidelidade com que o realizador segue o texto queirosiano é observada, por exemplo,  nas palavras iniciais do filme e na ordenação das sequências narrativas.
3. Na expressão «Tudo é cor neste filme» (linha 15), a palavra «cor» está associada à ideia de exuberância.
4. Relativamente ao conteúdo do terceiro parágrafo, o quarto parágrafo introduz um novo tópico de análise.
5. A utilização de dois pontos na linha 2 e na linha 8 serve para introduzir, respetivamente, uma explicação e uma citação.
6. No contexto em que ocorre, a expressão «grosso volume do romance de Eça de Queirós» (linha 4) constitui um exemplo de perífrase.
7. Ao recorrer à expressão «sem dúvida» (linha 34), veicula-se uma ideia de certeza.


- Trata-se de um pronome pessoal reflexo.
- Trata-se de uma oração subordinada adjetiva relativa restritiva.
- A coesão desempenhada por «pelo que» (linha 2) é interfrásica.
- A palavra que constitui uma catáfora da expressão «os trajes (num figurino rigoroso), os cenários, as próprias vozes dos atores» (linha 13) é tudo.
- O vocábulo «que» é, neste contexto, uma conjunção subordinativa (numa oração adjetiva relativa restritiva).
II




Dada a natureza deste item, não é apresentado cenário de resposta.


N.B. Sintra é uma vila tão vila, tão vila que tem recusado a elevação a cidade...

Eis o aspeto de uma charneca, como o pintor realista Silva Porto as pintava em 1879:

Silva-Porto_charneca-de-Belas_AC.jpg (260×144)