terça-feira, 14 de fevereiro de 2017

Cenário de correção 11.ºE


Grupo I
 
1.      O narrador de Amor de Perdição é não participante, visto que relata a história de forma parcial, como se comprova no excerto “As estradas, naquele tempo, deviam ser boas para isso, mas não tenho a certeza de que houvesse estradas para o Japão”, onde verificamos, além do mais, um distanciamento em relação à matéria narrada. A passagem “Entendem os novelistas que a matéria é baixa e plebeia. O estilo vai de má vontade para as coisas rasas.” demonstra simultaneamente a subjetividade do narrador, que emite juízos, e o facto de este comentar, ironicamente, o ofício do romancista. Tal como sucede noutros passos da obra, dirige-se, em “[…] eu já lhes fiz saber, leitores […]”, ao seu narratário.
2.        A interrogação retórica presente em “Se Teresa fugisse, com que recursos proveria à subsistência de ambos?” destina-se a realçar a angústia que a falta de dinheiro provoca a Simão. Podemos ainda considerar que se trata de uma gradação crescente, uma vez que os visados nas três falsas perguntas (João da Cruz < Mariana < Teresa) são cada vez mais importantes.
3.      O narrador considera que os romancistas que o antecedem consideram a questão monetária indigna de ser mencionada (« matéria (…) baixa e plebeia») ou que apenas se ocupam de somas muito elevadas, como sucede com Balzac («dinheiro a milhões»). Assim, ao revelar que as preocupações do seu protagonista se prendem com despesas correntes e com a sua subsistência, posiciona-se mais perto da realidade (isto é, confere um efeito de verosimilhança à sua novela) – e acima dos outros escritores.
Grupo II (versão A)
substituição por hiponímia.
um deítico espacial e um deítico temporal, respetivamente.
prefere conhecer apenas os locais que constam em roteiros turísticos.


metáfora.
causa.
complemento direto.
«Pinheiro Alves».
Catáfora.
Substantiva completiva.
Oração subordinada adverbial causal (não finita infinitiva).
No Porto.
Lexical (substituição — hiperónimo).
«As paredes graníticas da Cadeia da Relação albergam-nas.»
Camilo Castelo Branco.
«Mariana encontrá-la-á.»
Grupo II (versão B)
substituição por hiponímia.
um deítico espacial e um deítico temporal, respetivamente.
prefere conhecer apenas os locais que constam em roteiros turísticos.


metáfora.
causa.
complemento direto.
«Pinheiro Alves».
Catáfora.
Substantiva completiva.
Oração subordinada adverbial causal (não finita infinitiva).
Dos escritores
Oração subordinada adverbial causal (não finita infinitiva).
 «a esta cidade»
Lexical (substituição — hiperónimo).
«As paredes graníticas da Cadeia da Relação albergam-nas.»
 «Mariana encontrá-la-ia.»


Atenção: doze alunos ( a Ana P., a Bruna O., o Bruno, a Cátia, a Eduarda, a Filipa, a Francisca, a Juliana, o Luís F., o Nuno, o Rui e o Samuel S.) ainda não colocam entre aspas ou não sublinham títulos de obras.
Trata-se de regras que deviam ter sido aprendidas até ao 9.º ano, que têm sido inúmeras vezes relembradas (nomeadamente no quadro, por escrito) nas aulas de 10.º e 11.º anos e outras tantas assinaladas nos testes de avaliação. Se consultarem o "site" do IAVE (http://provas.iave.pt), encontrarão os seguintes fatores de desvalorização na expressão escrita nas provas de 9.º ano:


• Erro de ortografia (incluindo erro de acentuação, erro de translineação e uso indevido de letra minúscula ou de letra maiúscula inicial)
• Erro de morfologia
• Erro inequívoco de pontuação, incumprimento de regra de citação ou de referência a título de obra.


 

quinta-feira, 9 de fevereiro de 2017

Os caaabóis



«A imagem do hipster subiu ao povo, na expressão de Pedro Homem de Mello. O povo, sábio até na indolência, adaptou apenas os traços largos. Começou por apontar na direcção de Júlio Dinis, mas, desanimado pelas exigências do penteado, acabou por escolher uma barba low maintenance à Antero de Quental.
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É assim que os jovens procuram distinguir-se dos avós que, sendo saloios vaidosos, ostentam suíças hirsutas, usando como espelho de bolso uma lata de atum Tenório.

Completam a indumentária uma camisola de gola alta e jeans justinhos que desmaiam nas canelas para dar espaço a uns lustrosos botins de aprendiz de vaqueiro.

O silêncio assenta-lhes bem, mas a alma deles é generosa de mais para alinhar em conspirações puramente estéticas. Num centro comercial uma mãe, acompanhada por uma filha adolescente, pergunta a um destes falsos hipsters onde é que fica o elevador. Ele diz: “Não sei.” E depois, enojado pela própria falta de cooperação, acrescenta escusadamente: “Não deve ser muito longe daqui.” E, nisto, olha à volta, para ilustrar o sentido do que disse. A adolescente, mal vira as costas, diz à mãe, sem olhar para ela: “Mais um que é cool até abrir a boca.” Cool Até Abrir A Boca é CAAAB. Os rapazes que são CAAAB são os caaabóis.

A crueldade daquelas palavras faz medo. Por alguma razão tentam convencer-nos desde pequeninos que quando não temos nada para dizer mais vale ficarmos calados. Quem diria que isso era um bom conselho? Assim sendo, já não é tão mau ser-se cool até abrir a boca.»

Miguel Esteves Cardoso, in Público, 4/2/2016

Como sabem, gosto muito do Miguel Esteves Cardoso (há muito boa gente que acha super cool dizer "O MEC"). Mas escolhi esta história porque é muito mais engraçada - e atual - do que a minha velha história do "Vindes cum nós?" ou da ainda mais velha história (tão velha, que não a presenciei) do "naboiero"... A fotografia é de Antero de Quental, um poeta que vamos estudar no 3.º período.